quarta-feira, janeiro 25, 2012

                RELAÇÃO FATAL

                                                                                  

            Floriano considerava-se uma pessoa afortunada. Conseguira muitas bênçãos na vida. Assim ele se referia às realizações pessoais-afetivas ou profissionais. Nascera em família humilde com muitos filhos e firmes orientações sobre dever, honra, dignidade e respeito. Foi sobre estes pilares que alicerçou sua vida. Casou, teve filhos, educou-os com os mesmos preceitos que lhe foram passados pelos pais.
           Era construtor. Orgulhava-se de sua profissão. Com as sólidas bases que edificou sua trajetória de vida também erguia as casas que para ele significam mais do que uma simples moradia, mas a materialização dos sonhos de muitas pessoas, em cujos espaços eram fortificados laços de amor, respeito, solidariedade. Lares onde desejava que as pessoas fossem felizes.
            Ele mesmo erguera o seu onde foi possível ver os filhos crescerem com saúde, tornarem-se adultos. Orgulhava-se dos filhos e das profissões escolhidas. As duas filhas professoras, o filho, advogado.
            Aos sessenta anos ficara viúvo. Um câncer roubou-lhe a esposa deixando só, após um período de intenso sofrimento. Acreditava que sua vida havia chegado ao fim, que seu ciclo estava completo e nenhuma novidade aconteceria. Com essa convicção seguia sua rotina diária, e como  era  muito religioso, sempre agradecendo pela vida e por tudo que havia conquistado e até pelos maus momentos, ciente de que a vida  apresenta diversas facetas .
            Próximo de completar 70 anos conheceu uma pessoa. Uma mulher de 40 anos, solteira. Não lhe havia passado na cabeça a idéia de tornar a casar-se. Com o incentivo de familiares foi procurá-la e em menos de um ano estavam casados No civil e no religioso. Senta-se revigorado. Passou a interessar-se pela vida. Viajavam, tiravam férias no Uruguai a cada final de ano. Visitavam sua filha que morava em outra cidade, passavam temporadas fora de casa.
Passara a ter medo da rotina.
Sentia-se feliz. Todos haviam aprovado sua decisão. Tinham uma relação familiar sólida.
Para ela, que já se julgava condenada à solidão para o resto de sua vida, encontrá-lo tinha sido uma grande sorte. Podia desfrutar de prazeres que sua condição financeira na permitia, pois trabalhava como balconista para sustentar a si e a mãe velha e doente.
Viveram juntos por dez anos. Ela ficou viúva aos cinqüenta, quando o coração octogenário de Floriano não resistiu ao esforço de uma noite de amor.
Ele morreu feliz, ela viveu o resto de sua vida lamentando a falta dele..

 Publicado no livro. Contos Fantásticos 2012- CBJE
Publicado na Antologia on line
           



Bom Augúrio

Basta um sorriso tímido,

Uma flor ofertada

Com respeito, amor e sinceridade,

Um abraço cúmplice

E doses generosas de tolerância

Para levar a este mundo caótico

Um pouco mais esperança.


Data:2012.01.25
Publicado no Diário da Manhã-Pelotas-RS
Data: 2012.03.10-Sábado - página 15

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                                 Solo para a vida eterna
                                                                                              


         Descobri que preciso de luzes para ofuscar meu olhos e me impedir de ver as estrelas, a lua e a beleza da noite. Ao vê-los, lembro de ti.
 Lembro sempre, mas nestes momentos a tua ausência é contundente.
         Quantas vezes olhamos a lua do fundo de nossa casa, a vimos refletida na água admiramos a beleza das noites de luar a emoldurar a lagoa tão próxima de nós.
Lua, estrelas, céu, estrelas -cadentes, reunião familiar, noites festivas , foguetes estourando para saudar anos que eram novos, hoje envelhecidos pela dor e pela tristeza de não te ter junto , aqui em teu porto seguro, teu lugar de aconchego  onde desejavas   sempre ficar.
Natureza, praia, calor, amigos ao redor, festa.
Viver era uma festa. Contigo ao lado tudo era alegria e comemoração mesmo que cantasses desafinado ou que teu rock não soasse bem em meus ouvidos.
Tua presença era afinada, especial, um momento único como um solo de clarinete (que eu achava maravilhoso quando tocavas) ou um solo de sax- que gostavas tanto.
Quanto eu queria que voltasses a tocar ...
Talvez hoje toques em uma orquestra celestial.
Sinto falta das tuas chegadas , do teu barulho , dos teus gritos de gol, das tuas proposições – que nós rejeitávamos- tocar bateria .
Sinto falta de teus  lindos olhos ,das tuas brincadeiras, de acordar de manhã e te ver à mesa do café lendo o jornal, de tua mão macia e forte – a Márcia e a Nina que o digam.
Quando brincavam eu dizia que não tinhas noção de tua força.
Não só física, mas interior.
É toda essa energia que nos faz falta, nos entristece pela lacuna que ficou.
Tua presença era um solo irretocável da criação divina  que hoje está gravada  com muito amor em nossos  corações.

 Publicado no site:www.recantodasletras.com.br
Data:2012.01.25